PODCAST CURTI, E DAÍ?

Sem bateria: saúde mental online

Educação

Como os estudantes refletem sobre as relações entre saúde mental e mídias sociais? Neste episódio, tratamos de percepções sobre pressão social, estética, tempo de tela e muito mais.

curti, e daí?” é uma série realizada pelo Instituto Vero, com apoio do YouTube, que vai a escolas para saber como o jovem se vê nas mídias sociais. A cada episódio, as jornalistas Januária Alves e Laura Mattos conversam com estudantes, influenciadores e especialistas sobre o impacto das mídias sociais na nossa vida e identidade, apontando caminhos para uma melhor convivência digital.

Se você é professor, acesse também esse material aqui  aqui que preparamos para você levar as conversas do “curti, e daí?” para a sua sala de aula.

Neste episódio, conversamos com:

// INFLUENCIADORES

William De Lucca (@DeLuccadelucca).

// ESCOLA

EMEFM Linneu Prestes;

Escola Parque;

Escola Autonomia.

// ESPECIALISTA

Inês Vitorino.

// ESTUDOS CITADOS

Sulamérica e FSB - saúde Integral e opinião pública

Cartilha UNICEF: Saúde Mental de Adolescentes e Jovens

// CRÉDITOS

Realização: 

Instituto Vero.

Apoio:

YouTube.

Apresentação: 

Laura Mattos e Januária Cristina Alves.

Roteiro: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme.

Produção: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves.

Relações públicas: 

Nathalia Damasceno.

Edição e mixagem: 

Eliane Leme.

Pesquisa: 

Isabela Inês e Agenor Neto.

Arte Gráfica: 

Matheus Vieira.

Coordenação: 

Januária Cristina Alves e Victor Vicente.

Transcrição

vinheta 00:00:00

Esse podcast é uma produção do Instituto Vero.

trechos tv 00:00:04

Que que é pra fazer Dafne? agora pronto não vou falar é rodando aparentemente sozinho ali na curva um. Esse cara beijou tua boca. Saiba quais as pesquisas científicas que... Uma pesquisa divulgada hoje revelou como crianças e adolescentes acessam a internet no Brasil em busca de ajuda e de informações sobre emoções, sentimentos e saúde. Uma pesquisa feita pelo CETIC, um centro de estudos apoiado pela UNESCO mostra que trinta e dois por cento das crianças e dos adolescentes de onze a dezessete anos buscam apoio emocional na internet. Pode ser por um canal de ajuda, instituições ou até mesmo na conversa com um amigo.

vinheta 00:00:54

Curti, e dai?

Janu 00:01:09

Olá, pessoal. Cá estamos nós de novo no quinto episódio do podcast Curti, e daí? Uma iniciativa do Instituto Vero. Desta vez vamos discutir um tema que tem ocupado um espaço enorme nos noticiários. E é claro nas nossas vidas, o impacto das mídias sociais na saúde mental . Eu sou a Januária Cristina Alves, jornalista e atuo na área de educação midiática, que busca entender como podemos construir uma relação mais saudável com a internet. Estão comigo as jornalistas Eliane Leme, especializada em produção de podcasts e a Laura Matos que cobre educação.

Laura 00:01:48

Oi Janu, e pra este episódio, entrevistamos jovens que falaram de situações em que se sentiram ansiosos, inseguros ou angustiados com as mídias sociais. Tem muita gente que sofre com o mundo perfeito que a internet ajuda a viralizar. Há quem busca eterna aprovação e autoaceitação em forma de likes e outros que não se sentem representados no mundo virtual.

Janu 00:02:11

Tudo isso causa sofrimento e impacta negativamente a saúde mental. A Sofia, aluna da Escola Municipal Lineu Prestes, de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, contou como ela vê essa questão.

aluna Sofia 00:02:28

É porque assim eu provavelmente quase todos os adolescentes procuramos alguém pra falar nossa eu me identifico com essa pessoa. Eh nossa ela parece muito comigo e é muito raro você achar alguém assim ainda mais na internet. Então o que que você faz? já que eu não me identifico com a pessoa eu vou tentar me tornar parecida com a pessoa. E eu acredito que aí vem o problema. Aí vem o problema porque você não quer ser você. E você na rede social você não é você. Eh você cria um personagem. E aí eu acho que esse é que o problema da nossa saúde mental. A gente não consegue fingir o tempo todo.

Janu 00:03:00

e a Sofia também trouxe uma outra questão que muitos jovens enfrentam.

aluna Sofia 00:03:05

Em questão racial também, você não via uma Barbie negra, por exemplo, então assim, eu não queria ser uma Barbie negra, eu queria ser a Barbie loira do corpinho perfeito, porque não tinha Barbie negra pra eu querer ser. Ou no desenho a princesa era a loira dos olhos azuis. Então, eu não queria ser a negra, não tinha negra pra me identificar. Então eu acabava querendo ser a pessoa e eu acho que isso é um problema muito grave nossa sociedade que graças a Deus está mudando. Mas assim é uma coisa que a gente tem que se esforçar mais pra mudar mais rápido. E eu falo por mim eu acho que eu só não tive essa comparação alta por conta principalmente do meu irmão e da minha mãe assim, do meu pai, da minha família em si, que eles sempre ficavam exaltando, falando assim, não filha, você é linda, olha como você é linda, isso fez com que eu me amasse, mas infelizmente não é todo mundo que tem a estrutura familiar pra isso, ou que tem essa , esse incentivo da família. Então a pessoa ela não tem esse incentivo em casa ela vai procurar fora, só que fora também às vezes não tem. Então ela acaba se transformando totalmente pra se encaixar, né? Porque os adolescentes no fundo querem isso, querem se encaixar em algum lugar, querem se sentir parte de alguma coisa, exatamente isso e aí é aí complica, né? Porque às vezes não tem aí é isso que causa esse vício, às vezes, você na procura de alguma coisa que sacie você, que você se sinta completo, né?

Janu 00:04:19

a Giovana que também é da Escola Municipal Lineu Prestes explicou como a necessidade dos likes ativa a nossa dependência das mídias sociais.

aluna Giovana 00:04:30

Conheci bastante pessoas assim que tem tipo uma dependência emocional, né? Não é dependência emocional, mas uma dependência por aceitação, entendeu? Então é a verdadeira palavra flopou. Se a minha foto flopou na no Instagram um exemplo. Ah, achei que ia ter cinquenta curtidas, teve a metade, vinte e cinco curtidas. E quando isso eh não chega na na sua na sua meta acaba tendo essa dependência por aceitação, acaba afetando bastante.

Laura 00:05:01

A gente também falou sobre saúde mental e mídias sociais com o influencer William de Luca, que é jornalista, ativista e produtor de conteúdo digital. E ele também acha que essa busca pela autoafirmação na internet afeta a saúde menta.l

influencer William de Lucca 00:05:17

Eu acho que o algoritmo nas redes sociais explora a ansiedade, né? Essa necessidade pelo clique, por exemplo, pela curtida, eh gera ansiedade, né? Todas as redes sociais são programadas pra isso, né? Pra que você seja gostado pelas pessoas, né? Ser gostado, ser curtido é uma necessidade permanente de autoafirmação, né? E quando essa autoafirmação não vem, as pessoas tem a estrutura emocional pra lidar com essa rejeição? Eu eu tenho trinta e seis anos, eu não sei se eu tenho essa capacidade, né? Imagina um adolescente de treze, quatorze anos, de quinze anos de idade, né? Eh, e hoje as pessoas estão cada vez mais jovens entrando nas redes sociais, né? Tem gente de dez anos de idade com Instagram, com TikTok entrando nas redes sociais e sem talvez o amparo dentro de casa mesmo, na escola, nos outros espaços que ela frequenta e as redes sociais também não fornecem as ferramentas capazes pra preparar, né? Essas crianças, esses adolescentes pra conviver acho que nesses espaços eh eh e aí passa pela responsabilidade de todo mundo, da sociedade, dos pais, da família, da escola e das próprias empresas isso isso gera obviamente eh essa essa epidemia mesmo de doenças mentais que a gente acaba vendo.

Janu 00:06:41

Se em tempos normais já é difícil segurar a onda com a pressão que as mídias sociais exercem sobre a nossa autoestima na pandemia então nem se fala né Laura?

Laura 00:06:52

sim, Janu, não foi nada fácil, né? E agora, depois daquele terremoto nas nossas vidas, pesquisas e mais pesquisas mostram os danos do fechamento das escolas e de tudo que esse confinamento gerou pros jovens. Inclusive o uso excessivo de tecnologia e das mídias sociais. Um estudo do Instituto FSB Pesquisa no Brasil mostrou que a saúde mental dos jovens foi a mais prejudicada na pandemia: cinquenta e quatro por cento dos entrevistados disseram ter tido um aumento significativo de ansiedade e de desânimo. Eu conversei sobre isso com alunos do Autonomia, um colégio particular do bairro Itacorubi, em Florianópolis. E a Maria Clara lembrou como foi difícil encarar aquele momento.

aluna Maria Clara 00:07:38

Eu sempre li muito, sempre gostei de assim de ver filme assim e depois da pandemia minha dificuldade de fazer isso aumentou muito, porque o TikTok, o INSTAGRAM são coisas muito rápidas, é tudo muito, mesmo assistir um filme que é algo de tecnologia também abre ali, tem um monte de de filme pra assistir o tempo de demora que tem às vezes é muito grande e eu não tenho paciência pra isso e é assistir um filme sabe? Imagina ler um livro, imagina ficar duas, três horas estudando, dificultou muito. Então o violão eu sinto que segurou um pouco nessa parte assim, porque aprender uma música precisa treinar e treinar e ainda mais sem um professor físico, uma aula de de música. Então, aquilo ali do do YouTube com vídeos e treinos em casa e ficar com o dedinho com calo pra poder me concentrar em outra coisa assim eu lembro de passar tardes tocando violão porque era o que me me aliviava assim sabe? A gente compartilhou muito isso assim de tocar a mesma música de falar sobre isso então eu acho que eh a internet me ajudou nesse ponto assim sabe? De ter de me ensinar algo pra fazer no sentido de de pra ficar mais e ter algo algum hobby assim que nem a tinha falado.

Laura 00:08:50

O Pedro que também é do Colégio Autonomia comentou um outro aspecto preocupante das mídias sociais. você que está nos ouvindo provavelmente já viveu algo bem parecido.

aluno Pedro 00:09:00

eu até fico impressionado assim com os meus amigos e tipo quando a gente está saindo todo mundo junto às vezes a gente ficou tanto tempo na pandemia sozinho, sozinho, sozinho e agora que a gente conseguiu sair pra se encontrar as vezes a gente está numa roda assim e eles puxam o celular! Às vezes começou a ser até um um ato assim que eles nem percebem porque ,por exemplo, quando pega redes sociais a gente sempre passa pra baixo, passa pra baixo, passa pra baixo e tu começa a ficar com aquilo na mão e às vezes até difícil concentrar numa aula, por exemplo, ou parar pra ler um livro. Quando a gente tem que parar e demorar mais um tempo pra poder digerir aquilo as pessoas assim, hoje em dia a gente vê muita gente é tirada de sala com o celular na mão porque passa dez minutos de aula, já não consegue mais se concentrar e já tem que tá fazendo alguma coisa ou é alguém batendo uma caneta ou alguma coisa assim, as pessoas tão mais hiperativas, então eu via gente junto. podia tá um olhando pro outro conversando e todo mundo com o celular na mão.

Janu 00:10:05

A professora Inês Vitorino da Universidade Federal do Ceará, que participa de um grupo que pesquisa a relação entre a juventude e as mídias, alerta o quão necessário é a sociedade prestar atenção nos problemas causados por essa dependência emocional com as mídias sociais.

Prof Inês 00:10:23

porque assim, eu busco apoio da internet, a pessoa que já tá buscando, ela já tá com alguma fragilidade. De onde vem essa fragilidade? Né? Então, assim, é preciso conhecer o contexto dessas pessoas. Então, mais um elemento aí, formar comunidade de escuta, às vezes só escutar já é um passo enorme. Então, acho que vale a pena a gente ter mais espaços de escuta, criar mais espaços de escuta, pensar coletivamente, ah, um coleguinha tá sofrendo ansiedade? Como é que a gente conversa? Vamos tentar entender primeiro de onde é que isso vem? Isso tem a ver com o quê? O que que no contexto está favorecendo isso? Então é muito importante o grupo pra reafirmar a esperança, o grupo pra reafirmar eu não estou só . Vamos tentar trazer a pauta do nós? Esse nós pode ser o nós que você construir com os seus amigos, com as suas amigas e que você possa então enfrentar esse sofrimento psíquico superando essa situação de desamparo e construindo possibilidades pra superar a desesperança que são elementos muito associados a ansiedade e a depressão.

Laura 00:11:27

e muitas instituições estão preocupadas em apoiar os jovens nessa batalha como o UNICEF, por exemplo. Eles criaram uma cartilha chamada Saúde Mental de Adolescentes e Jovens e lá tem até dicas de primeiros socorros emocionais e de como ajudar uma pessoa que esteja passando por dificuldades. Esse material pode ser baixado gratuitamente e a gente deixou o link na descrição deste episódio.

Janu 00:11:52

Foi nessa cartilha que eu encontrei uma definição simples e didática sobre o que é saúde mental. A saúde mental é um estado de bem-estar. É conseguir passar pelas coisas que acontecem em nossa vida , mesmo as ruins, e depois seguir em frente. Ela se relaciona com a nossa saúde física, nossas questões emocionais e também com a justiça social a autonomia e a segurança. É isso gente, dificuldades fazem parte da vida, a diferença é como a gente lida com elas, não é mesmo? A Letícia, da Escola Parque do Rio de Janeiro diz como tenta se proteger

aluna Leticia, Escola Parque 00:12:34

Eu aceito tipo assim qualquer visão diferente da minha porque a gente tem que aprender a lidar com as diferenças né? Só que tem um limite também nessas coisas então ,por exemplo , se eu vejo alguma coisa que eu sei que tipo vai me deixar muito estressada que eu não estou conseguindo lidar com aquela coisa é uma posição assim muito absurda eu tento tirar isso da minha alçada, entendeu? Então eu eu sei lá, bloqueio desse assunto, às vezes paro de seguir tal pessoa porque eu me estresso muito fácil com essas coisas. Então eu sei que vai me fazer mal. E às vezes eu só quero entrar no meu telefone pra me distrair. Eu não quero ter que lidar com uma coisa que me deixa mal. Entendeu? Então eu sei lá, só corto esse laço porque eu sei que vai me fazer bem.

Janu 00:13:20

É isso, Letícia, e foi tão legal perceber ao longo desses cinco episódios do Curti e Daí, que tem muito jovem buscando uma relação mais equilibrada com as mídias sociais. Eles estão pensando, eu curti, e daí?

alunos cantam 00:13:38

Naquela mesa ele sentava sempre me dizia sempre o que é viver melhor...

laura 00:13:43

E a gente vai ficando por aqui com o Pedro cantando e a Maria Clara tocando Naquela Mesa , do Nelson Gonçalves. Pra eles a música é um jeito de dar uma desestressada das mídias sociais. E pra você, qual é?

vinheta 00:14:18

A produção e o roteiro deste podcast é de Laura Matos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme. Com o apoio de Natália Damasceno. Apresentação de Laura Matos e Januária Cristina Alves. Edição e mixagem Eliane Leme. Pesquisa Isabela Inês e Agenor Neto. Arte Gráfica de Mateus Vieira. Coordenação Januária Cristina Alves e Vitor Vicente. Confira os canais do Vero. O site é Vero ponto ORG ponto BR. Nas mídias sociais você nos encontra em arroba Vero Instituto