O ciberbullying não é um problema que acontece e fica online, assim como tudo o que fazemos na internet. Esses ataques reverberam na vida das pessoas offline, afetando a autoestima, as relações sociais e a saúde mental, principalmente dos jovens. Como podemos construir uma comunidade online com mais diálogo e empatia?

curti, e daí?” é uma série realizada pelo Instituto Vero, com apoio do YouTube, que vai a escolas para saber como o jovem se vê nas mídias sociais. A cada episódio, as jornalistas Januária Alves e Laura Mattos conversam com estudantes, influenciadores e especialistas sobre o impacto das mídias sociais na nossa vida e identidade, apontando caminhos para uma melhor convivência digital.

Se você é professor, acesse também esse material aqui que preparamos para você levar as conversas do “curti, e daí?” para a sua sala de aula.

Neste episódio, conversamos com:

// INFLUENCIADORAS

Amanda Farah;

Majucca.

// ESCOLAS

Escola Parque;

Escola Estadual Pereira Barreto.

// ESPECIALISTAS

Inês Vitorino;

Kelli Angelini.

// ESTUDOS CITADOS

Unicef - #ÉdaMinhaConta

Orientação sobre crimes e violações dos Direitos Humanos na internet

// CRÉDITOS

Realização: 

Instituto Vero.

Apoio:

YouTube.

Apresentação: 

Laura Mattos e Januária Cristina Alves.

Roteiro: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme.

Produção: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves.

Relações públicas: 

Nathalia Damasceno.

Edição e mixagem: 

Eliane Leme.

Pesquisa: 

Isabela Inês e Agenor Neto.

Arte Gráfica: 

Matheus Vieira.

Coordenação: 

Januária Cristina Alves e Victor Vicente.

Transcrição

vinheta 00:00:00

Esse podcast é uma produção do Instituto Vero.

alunos Pereira Barreto 00:00:05

Na internet o alcance é muito grande, né? Então, mais pessoas vão ver o bullying, mais, ou seja, são mais pessoas te atacando também. A internet vai ficar registrada eternamente. Qualquer um que pesquisar, qualquer um que ver, vai achar o cyberbullying, vai achar aquele comentário. E as coisas na internet acontecem muito rápido. Por exemplo, eu comento na foto de uma pessoa, de uma amiga. Eu posso tirar o print, mandar num grupo de amigos e esses amigos vão mandando no grupo, no grupo, no grupo, daqui a pouco a escola inteira tá sabendo questão de minutos, horas, então uma coisa muito complicada a internet. É um ciclo sem fim, né? Por ser na internet e ser anônimo e também chegar num alcance muito maior de pessoas, eu já vi, já passei por experiências de contas fakes, tipo de escola antigas e que acontece nessa escola, pessoas criam contas para falar, tipo, segredos de pessoas da escola e se isso acaba chegando em todo mundo da escola, porque tipo todo mundo vai seguir, porque todo mundo também não tem o senso de ir lá, denunciar a página, tipo, pedir, tipo, chegar no no direct, pedir pra não difamar as pessoas, sabe? E aí, acabam espalhando o segredo das pessoas, sabe? É bem difícil isso.

Laura 00:01:21

Nós estamos na Escola Estadual Pereira Barreto, no bairro da Lapa, em São Paulo. E esses jovens que vocês acabaram de ouvir, estudam lá. O Ruan, a Isadora e a Bruna. O assunto da nossa conversa era o bullying, ou melhor, o Cyberbullying, uma modalidade de agressão virtual que inclui situações de violência online como humilhações, intimidações, chantagem ou compartilhamento não autorizado de imagens íntimas. Essa prática infelizmente é comum nas mídias sociais. Você já viu, ouviu, sofreu ou participou de alguma maneira de um caso de cyberbullying?

vinheta 00:02:01

Curti, e daí?

Laura 00:02:19

Este é o episódio três do podcast Curti. E daí? Uma realização do Instituto Vero.Meu nome é Laura Mattos, sou jornalista e cubro a área de educação. Estão comigo neste projeto as jornalistas Januária Cristina Alves e Eliane Leme. Nós criamos este podcast pra ouvir os jovens sobre como eles estão se relacionando com as mídias sociais e temos, é claro que falar de e de discurso de ódio.

Janu 00:02:48

São dois temas centrais quando se discute o papel das mídias sociais na vida dos adolescentes. Uma pesquisa divulgada pelo UNICEF em 2019 revelou que um em cada três jovens em trinta países diz ter sido vítima de bullying online, um em cada cinco contou que saiu da escola devido a cyberbullying e violência. Ou seja, a coisa é séria e tem causado enormes prejuízos a jovens do mundo inteiro. Se você quiser saber mais sobre essa pesquisa, é só dar uma espiada lá no site do podcast. A Kelly Angelini que é advogada e palestrante sobre direito digital e educação digital em escolas e em empresas afirma que essa é uma das maiores preocupações de pais e educadores quando se trata do acesso à internet de crianças e jovens.

Kelly Angelini 00:03:42

O que eu tenho percebido é que jovem no dia a dia ele está com dificuldade de lidar com os conflitos no presencial, dentro de uma sala de aula, no clube que frequenta em algum ambiente. E aí ele transporta isso pro digital pra extrapolar essa emoção, esse sentimento que ele não conseguiu lidar no presencial. E aí vem o que , a criação de perfis falsos, a criação de um meme com a foto e tudo isso quando a gente fala de bullying e Cyberbullying a gente está falando de ações repetitivas. A caracterização do bullying e Cyberbullying são ações, agressões repetitivas que causam dor, sofrimento e angústia . A consequência pra quem alvo desse cyberbullying é tremenda.

Laura 00:04:24

E falar sobre o bullying e o cyberbullying é um desafio enorme. Não é todo mundo que consegue conversar a respeito. Porque é uma coisa que dói. Que faz a pessoa se sentir impotente. E especialmente muito sozinha. A Duda da Escola Pereira Barreto dividiu com a gente algo que ela viveu.

aluna Duda 00:04:44

Eu sofri bullying, tipo, me zoavam na escola e aí sempre sofri muito com ansiedade, sempre tive depressão e aí tipo juntou tudo e aí eu comecei ter uma queda de cabelo. Meu cabelo começou cair e aí fazia tratamento e ia pro hospital e ninguém sabia o que tinha porque nos exames dava tudo normal que era não era nada físico, era psicológico mesmo, né. E aí tipo tive que tratar tipo muitos anos de terapia, muitos anos de terapia e remédios dermatológicos fortíssimos. Eu tinha oito anos, eu era uma criança. Então tipo foi algo muito sério que naquela época eu não tinha dimensão e nem sabia que era tão grande assim . Eu só sabia sentir e sofrer sozinha, tipo, não contava pra ninguém, meus pais não sabiam, a diretoria da escola não sabia. Então eu sofria calada e sozinha. Então acho que foi isso que me machucou mais e aí começou o quando você não põe pra fora o seu corpo grita. Ele dá um jeito de de pedir uma ajuda, de pedir um socorro e foi aonde meu cabelo caiu, meu cabelo caiu setenta por cento e eu tive que fazer muito tratamento dermatológico e psicológico durante muitos anos pra conseguir esperar isso.

Janu 00:05:52

O cyberbullying é um fenômeno complexo e tem a ver com diversas questões, como preconceitos de raça, etnia, sexualidade. E também tem a ver com o fato de as pessoas poderem estar escondidas atrás de suas telas. O cyberbullying é como o bullying offline mas é amplificado pelas mídias sociais. Eu conversei com os alunos da Escola Parque que fica na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro e a Letícia falou sobre o que ela acha que causa o cyberbullying e como ele deve ser combatido.

aluna Letícia 00:06:26

Porque o que acontece? Geralmente quando se fala em cyberbullying você está falando tipo de uma dominação. Assim é uma meio que uma hierarquia de poder. Uma pessoa se sente eh poderosa o suficiente pra ir lá e maltratar a outra, ir lá e sei lá rebaixar a outra e tipo geralmente isso acontece com minorias, né? Por exemplo, eh o cyberbullying muitas vezes tá ligado a algum caso de racismo, algum caso de homofobia justamente a esse desrespeito né? A esse essa não compreensão das diferenças. Então tipo eu acho que pra combater o cyberbullying a gente tem que atuar diretamente no que leva uma pessoa a praticar esse cyberbullying. Por que que ela se sente assim na posição de praticar. Então tipo eu acho que medidas de combate a discriminação tem que ser tomadas e a escola é tipo um dos principais lugares pra você fazer isso porque você tá ali convivendo por horas com um monte de pessoas diferentes de você e você tem que aprender a lidar com essas diferenças você não pode achar que você é melhor do que o outro por sei lá fatorX, fator Y.

aluna Letícia 00:07:31

A Letícia mesmo e o grupo dela foram vítimas de cyberbullying.

aluna Letícia 00:07:37

Uma conta fake do Instagram começou a seguir a gente e de início a gente não desconfiou porque parecia ser o perfil de uma menina chamada Duda eh e ela tinha foto de perfil, tinha destaque no INSTAGRAM, tinha foto postada eh e muita gente aqui da escola seguia esse perfil, então a gente pensou ah deve ser alguma ex-aluna, alguma amiga em comum, enfim .Só que aí esse perfil começou a mandar mensagem pra gente meio que pegando alguns pontos fracos e quando eu falo isso eu estou falando tipo assim pontos que a pessoa sabia que a gente ia se sentir mal se ela tocasse nesse assunto e começou a usar isso contra a gente.

Janu 00:08:17

E aí você pode só dar um exemplo assim alguma coisa que não seja muito invasiva que que essa pessoa falou que pegou vocês?

aluna Letícia 00:08:24

Eh então, uma dessas minhas amigas ela é negra e aí essa pessoa começou a mandar um monte de mensagem racista pra ela e aí não preciso nem entrar em detalhes né? A gente sabe o que acontece Eh e aí mandou mensagem pra outra amiga minha falando do corpo dela, do peso dela , mandou mensagem pra outro amigo sendo homofóbico falando da sexualidade dele. No meu caso em específico, a pessoa começou a realmente me assediar. Aí, isso durou mais ou menos umas duas, três semanas dessa pessoa mandando várias mensagens pra gente. E aí tipo de início a gente pensou né em bloquear a pessoa só que o motivo bobo pra gente não ter bloqueado, e hoje eu percebo que foi realmente errado, foi que a gente queria ir atrás dessa pessoa, a gente queria descobrir quem era essa pessoa pra, sei lá, se fosse alguém da escola, mandar pra coordenação, pra coordenação nos ajudar ou então até mesmo sei lá levar pra polícia que a gente pensou nisso e o motivo mais plausível foi que essa pessoa também ameaçava a gente falando ah se você me bloquear, se você não me responder a gente vai vazar coisa sua, vai sei lá expor alguma coisa pessoal sua e a gente ficou com esse medo e aí a gente decidiu realmente sei lá, arriscar e bloquear a pessoa Entendeu? E aí todo mundo bloqueou, denunciou a conta. Infelizmente o Instagram não conseguiu derrubar essa conta. mas aí né? Felizmente essa pessoa não foi mais atrás da gente, mas foi um momento assim, essas duas, três semanas foi um momento de muita tensão.

Janu 00:09:59

E por conta disso muitos jovens optam por se calar nas mídias sociais, evitando conflitos. A Olívia da Escola Parque falou sobre isso.

aluna Olivia 00:10:09

No mundo online eu prefiro me abstrair. Então às vezes eu nem leio. Às vezes eu sabe pulo já pra não me afetar com essas coisas. Como online é um ambiente tão inseguro e você não sabe quem é que está por trás das telas, você não tem esse controle, né? De quem tá falando e com quem você tá falando e no mundo real é diferente, né? Eu vejo a situação, eu acho muito mais fácil de se posicionar, porque você sabe com quem você tá falando e quais medidas você pode tomar, são medidas mais práticas mais controláveis assim, né? Então acho que muda muito, né? As medidas que você vai tomar tanto pro mundo online quanto pro físico.

Janu 00:10:48

A influencer Amanda fará passou por um episódio de cyberbullying que lhe custou a perda de muitos seguidores. Ao se posicionar politicamente e bloquear aqueles que a agrediram com discurso de ódio, Amanda teve de fazer uma escolha que impactou sua vida também no mundo offline. Olha só o que ela diz sobre essa experiência.

influencer Amanda Farah 00:11:10

perder esses seguidores que me fez muito mal assim porque dá a sensação de que você está fazendo alguma coisa de errado.Mas eu acho que é isso, você quando você tem consciência e você é uma pessoa que é ética e você acredita nos seus, nos seus ideais, isso passa, sabe? Tipo, eu fiquei triste, fiquei magoada, mas depois eu falei assim, ah, tá bom. Que eu fiquei pensando, eu consigo conviver com uma que tem discordâncias políticas de mim tranquilamente a não ser que ela seja uma pessoa que é violenta , que prega certas questões que ele realmente não tem como a gente ser nada, a gente não vai a gente vai conviver. Mas eu acredito que de certa forma essas pessoas saírem foi um grande favor pra mim assim, eu acho que isso deixa a minha comunidade ainda mais forte e com pessoas que tão dispostas a dialogar e a pensar num futuro que é diferente, sabe? Eu acho que eu nunca briguei com ninguém pessoalmente, mas na internet eu já briguei com um monte de gente assim, porque você se sente protegido porque você tá na sua casa, então uma pessoa quando ela quer esculachar a outra falar mal da outra, ela se sente protegida porque ela está ali na casa dela, ela acha que ninguém vai ninguém pode feri-la, ninguém pode argumentar que é só desligar o computador que tá tudo resolvido e você ou apagar os posts que tá tudo resolvido, só que eu acho que as pessoas não percebem que a internet é uma extensão da nossa vida pública, ela não é privada, por mais que o seu perfil seja privado tudo que você escreve está indo para um espaço público é como se você fosse para a rua e começasse a gritar uma coisa. Eu acho que a gente tem que ter muito cuidado com o que a gente fala porque a gente acha que não, mas os criadores de conteúdo leem tudo, tudo, tudo mesmo, assim. Eu tenho amigas que já sofreram problemas muito pesados com cancelamento na internet e pensaram em suicídio, pensaram nessas coisas porque a vida dela está toda ali, né? Está toda aberta então é como se você tipo abrisse uma ferida e as pessoas ainda assim ficassem colocando sal na sua ferida pra arder, pra você se sentir triste, sabe? Parece que todo mundo espera que você tropece pra poder cair em cima de você também, sabe?

Laura 00:13:18

E combater o e o discurso de ódio é um dos maiores desafios da nossa sociedade. Agora, o que que diferencia uma coisa da outra? Bom, enquanto o cyberbullying é uma agressão mais pessoal, no discurso de ódio os ataques incitam a intolerância contra determinados grupos sociais. No Brasil esse tipo de prática é crime.

Janu 00:13:41

muitas destas agressões acontecem nas plataformas de mídias sociais que vem tentando lidar com esse problema A Inês Vitorino professora da Universidade Federal do Ceará , explica esse fenômeno com muita propriedade.

Prof. Inês Vitorino 00:13:56

nós somos únicos, a gente está aqui pra ser o que é e eu vejo hoje uma disseminação muito grande nesse país eh de polarizações, de discursos de ódio, né? De muita desinformação, isso entre muitos fatores, inclusive os financeiros ligados as plataformas de ganho, de lucro com as polarizações, porque quanto mais eu crio uma polêmica. Mas eu tenho curtidas, mais eu tenho compartilhamentos, mais eu tenho visualizações. Então a polarização ela favorece as redes, mas ela não favorece as nossas relações humanas. O não favorece o diálogo, o nosso bem comum, a nossa vida em comum. Então é muito importante que a gente tenha o de ser quem a gente é nessa sociedade.

Laura 00:14:39

Eh e há muitas maneiras de se combater o cyberbullying. Até as plataformas tem produzido conteúdo sobre o assunto. O INSTAGRAM, por exemplo, lançou o projeto #é da minha conta que fala da importância da empatia e do respeito às diferenças.

Janu 00:14:56

Aliás, é muito importante lembrar que não estamos sozinhos nas mídias sociais. A Safernet Brasil, organização que se preocupa com o bem-estar na internet, mantém o serviço gratuito para orientar crianças, adolescentes, pais e educadores sobre situações de violência on-line. É o Help Line Brasil. O canal está disponível em dois endereços, Helpline.org.br ou canaldeajuda.org.br. Esses endereços estão na descrição deste episódio e no site do podcast.

Laura 00:15:32

Mas fora tudo isso, tem uma regra de ouro pra uma boa convivência nas mídias sociais. E ela é simples. A MAJUCA que é influencer e apresentadora do Arte Attack, do Disney Plus, ensina pros seus seguidores.

influencer Majuca 00:15:50

Eu sempre repito uma frase que pra mim é a frase que é a frase chave das redes sociais e é uma coisa que eu aprendi no Bambi, que é assim, a mãe do tambor fala, se você não tem nada de bom a dizer, fique quieto. E eu acho que se as pessoas, putz, elas pegassem isso pra viver na internet ou pra viver na vida, o mundo estaria bem mais leve. Não, não existiria tanta discórdia, as pessoas não iam ficar chateadas à toa, porque é muito gratuito. Imagina, às vezes eu fico chateada com uma pessoa que nem me conhece. Então, se ela tirasse dez minutos pra repensar aquilo, pra conhecer minha história, muito provavelmente ela não iria fazer um comentário gratuito de ódio, sabe?

Janu 00:16:35

Que lembrança gostosa que é o bambi, uma das histórias mais bonitas dos filmes da Disney. É isso. Vamos ficando por aqui, convidando você a pensar como pode fazer das suas redes um ambiente melhor, mais acolhedor e mais saudável. Até a próxima.

Laura 00:16:53

É isso aí, gente. Gostou? Dá um like, segue o nosso podcast e a gente se vê no próximo episódio. Beijo.

Vinheta 00:17:05

A produção e o roteiro deste podcast é de Laura Matos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme. Com o apoio de Natália Damasceno. Apresentação de Laura Matos e Januária Cristina Alves. Edição e mixagem Eliane Leme. Pesquisa Isabela Inês e Agenor Neto.Arte Gráfica de Mateus Vieira, coordenação Januária Cristina Alves e Vitor Vicente. Confira os canais do Vero, o site é Vero ponto ORG ponto BR. Nas mídias sociais você nos encontra em arroba Vero Instituto