As novas gerações enfrentam uma realidade sem precedentes: uma vida inteira vivida online. Enquanto a tecnologia oferece infinitas possibilidades de aprendizado e conexão, ela também traz desafios. O que significa crescer e envelhecer conectado?

curti, e daí?” é uma série realizada pelo Instituto Vero, com apoio do YouTube, que vai a escolas para saber como o jovem se vê nas mídias sociais. A cada episódio, as jornalistas Januária Alves e Laura Mattos conversam com estudantes, influenciadores e especialistas sobre o impacto das mídias sociais na nossa vida e identidade, apontando caminhos para uma melhor convivência digital.

Se você é professor, acesse também esse material aqui que preparamos para você levar as conversas do “curti, e daí?” para a sua sala de aula.

Neste episódio, conversamos com:

// INFLUENCIADOR

Raphael Vicente.

// ESCOLAS

Ateliê Escola Acaia;

Escola da Vila.

// ESPECIALISTA

Inês Vitorino.

// CRÉDITOS

Realização: 

Instituto Vero.

Apoio:

YouTube.

Apresentação: 

Laura Mattos e Januária Cristina Alves.

Roteiro: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme.

Produção: 

Laura Mattos, Januária Cristina Alves.

Relações públicas: 

Nathalia Damasceno.

Edição e mixagem: 

Eliane Leme.

Pesquisa: 

Isabela Inês e Agenor Neto.

Arte Gráfica: 

Matheus Vieira.

Coordenação: 

Januária Cristina Alves e Victor Vicente.

Transcrição

Vinheta 00:00:00

Esse podcast é uma produção do Instituto Vero.

Laura Mattos | 00:00:03

Olá.

Assessora | 00:00:07

Essa é Giovana. A Giovana trabalha como monitora aqui da biblioteca.

Aluno(a) | 00:00:11

É , eu sou monitora da biblioteca, eu posso levar vocês lá.

Eliane | 00:00:13

ah, muito obrigada. Vamos lá.

Laura Mattos | 00:00:16

Essa conversa aí rolou no Ateliescola Acaia, que atende crianças e jovens de favelas da Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo. Foi lá que a gente começou a conversar com jovens sobre algo que eles conhecem bem. As mídias sociais. Logo na porta a Teté, que é assessora da escola, nos apresentou a Giovana, essa que você ouviu na abertura. A conversa com ela e com outros cinco colegas do Acaia ia ser na biblioteca.

Eliane | 00:00:47

fiquei até com saudade de escola agora.

Laura Mattos | 00:00:49

Legal mesmo aqui.

Laura Mattos | 00:00:52

Quem está falando comigo aqui não é do Acaia não. É a Eliane Leme, que a gente chama de Eli. A Eli faz a gravação e a edição das entrevistas. Enquanto a gente organizava os microfones pra gravação eu expliquei pra turma o objetivo principal deste podcast.

Aluno(a) | 00:01:11

é sobre o que a matéria?

Laura Mattos | 00:01:13

é sobre o atuação dos jovens com as redes sociais.

00:01:16

Ah sim, a Giovana tá dando uma aula de oficina TikTok.

Laura Mattos | 00:01:20

Sim, plataformas como TikTok e INSTAGRAM fazem parte da vida dos adolescentes como seus melhores amigos, né? E o que a gente quer saber aqui é se o uso das mídias sociais acontece no piloto automático ou se os adolescentes refletem de alguma forma sobre essa relação.

00:01:38

Curti, e daí?

Laura Mattos | 00:01:50

Este é um podcast do Instituto Vero, que trabalha para tornar a nossa relação com a internet mais saudável. Curti e daí é o nome que a gente deu pra este podcast. Não é por acaso, a ideia é pensar e repensar o significado de cada like que a gente dá naquilo tudo que aparece no nosso feed. Será que quando a gente tá nas mídias a gente tem consciência do que tá fazendo? Ou tá apenas clicando tipo totalmente aleatório? Bora descobrir isso? Eu sou a Laura Matos, jornalista e cubro a área de educação. Quem tá comigo nesse projeto, além da Eli, é a Januária Cristina Alves, escritora e jornalista especializada em educação midiática. A educação midiática parece uma coisa complicada, mas é basicamente pensar sobre como nos relacionamos com a internet, com as mídias sociais e qual é o nosso papel como produtores de conteúdo. Porque gente, na verdade, não é só influencer famoso que tem que pensar sobre isso não. Quando a gente publica um post, um vídeo, quando a gente dá um like, tudo isso é produzir conteúdo. É interagir e interferir nesse universo digital. Então, temos que pensar em como fazer isso de forma mais ética, consciente e criativa.

Laura Mattos | 00:03:09

Vão ser cinco episódios que discutem temas fundamentais pra gente melhorar a nossa relação com todas essas mídias que invadiram a nossa rotina. Afinal a nossa história está sendo escrita nas redes e é preciso que a gente participe disso de forma inteligente. Então agora gente vamos ouvir o que a turma do Acaia falou sobre a internet.

Aluno(a) | 00:03:29

Eu acho importante a gente ocupar esses lugares sendo quem a gente é e vindo da onde a gente vem né? Tipo assim, eu sou preta da pele clara né? Sou gorda, sou uma menina da favela, sou uma mulher. Então assim, como que seria ocupar esses lugares na rede social? Tipo assim, a gente precisa ocupar esses lugares. Tanto que eu eu sempre tento seguir pessoas que são parecidas comigo. Então ou pessoas que são parecidas, que são minhas amigas, né? Tipo, a minha mãe ela é uma pessoa com deficiência. Então assim, e ela é uma mulher preta, ela também é gorda, ela é nordestina. Seguir pessoas que são parecidas com ela, o que que influencia pra mim. Seguir pessoas que são gordas como eu, como que elas também são inseridas na sociedade, ou seguir mulheres pretas, como que é pra elas, pra eles, né? Tá inserido nesse mundo, porque eu acho muito importante ocupar esses lugares sendo quem você é e vindo da onde você vem.

Aluno(a) | 00:04:19

Você tem que ter um corpo perfeito, tudo na sua vida tem que ser perfeito senão você não é bom o suficiente pra sociedade. Eu acho que eu sinto isso no INSTAGRAM, no TikTok, principalmente no TikTok, que eles pegam, é um padrão assim que é inalcançável, tem que ser tudo perfeito, tudo definido, tipo tem que fazer tipo um tanquinho, eles cobram muito das pessoas e eu já fui cobrado, tipo, eu já me senti, tipo, eu até tentei emagrecer, tomei chá pra ficar no padrão ali, só que aí depois eu percebi, pô, eu não preciso tá num padrão, eu tenho que ser quem eu sou.

Laura Mattos | 00:04:49

Bom, Janu, começamos com tudo, hein?

Januária Alves | 00:04:53

Sim Laura, são falas muito fortes e que nos fazem pensar sobre a nossa relação com as mídias sociais e principalmente perceber o peso de um like. Por isso que a gente está aqui falando sobre a importância da educação midiática Afinal, todos nós somos cidadãos. E é bom a gente começar a pensar em como exercer esse nosso direito onde quer que a gente esteja. No universo on ou offline.

Laura Mattos | 00:05:19

Exatamente. Então bora lá ouvir as vozes do Mateus, da Giovana e de um monte de adolescente um que a gente conversou em escolas públicas e particulares de vários lugares do Brasil. A gente rodou né Janu? E foi muito legal conversar com os estudantes. Eu fiquei impressionada com tudo que eles pensam sobre as mídias sociais. Fora que eu aprendi um monte, né? Tipo dix. Você sabe o que é dix, Janu? D, I, X?

Januária Alves | 00:05:47

Sei não, acho que eu preciso perguntar pros universitários.

Laura Mattos | 00:05:51

É, Dix é um perfil meio que secreto, sabe? Só "praqueles"amigos mais próximos, que você ali pode postar as coisas que você nunca postaria naquele perfil, digamos mais oficial, que todo mundo vê. Principalmente os pais, né gente? Ai eu preciso descobrir o Dix dos meus filhos, viu?

Januária Alves | 00:06:09

Ih, minha filha, na hora que cê descobriu o Dix deles, eles já vão ter, sei lá, o Dix do Dix, ou seja, alguma coisa mais secreta ainda, tem jeito não. Mas deixa eu dizer uma coisa, eu também aprendi um monte com essas entrevistas, viu? A gente entrevistou um influenciador pra cada episódio. Esse pessoal que está aí bombando nas redes. Pra esse primeiro, eu conversei com o Rapha Vicente.

Raphael Vicente | 00:06:41

Oi, eu sou o Raphael Vicente, eu sou blogueiro, sou criador de conteúdo, tenho vinte e dois anos, eu sou morador aqui da Maré. E é isso aí.

Januária Alves | 00:06:51

já a gente conta mais sobre ele. E nesse primeiro episódio, além da turma do Ateliescola Acaia, que a Laura entrevistou, tem o pessoal da Escola da Vila com quem eu conversei. A Escola da Vila é uma escola particular do bairro Butantã, que também fica na zona oeste de São Paulo. E a turma de lá tá pensando e repensando sobre a relação dos jovens com o mundo. E é claro, também com as mídias sociais.

Laura Mattos | 00:07:17

Sabe que o Mateus do Acaia, quando eu tava falando disso, me contou uma coisa que me deixou impressionada. Pra tentar entrar no que ele chamou de padrão das mídias sociais , ele tomou não só chá pra emagrecer como fez mais. Vamos ouvir aí o que ele falou.

Aluno(a) | 00:07:33

Eu tava indo pro caminho do padrão, tipo, cabelo liso, corpo bem trincadinho assim. Povo sempre retiou muito meu nariz, pô, tá na escola, todo lugar tipo narizinho de porco, aí tipo, ai, eu não gosto do meu nariz, eu comecei a odiar meu nariz, eu botei já , coloquei pregador no meu nariz pra não, tipo, pra ele ficar mais fino, começaram a falar que a minha boca era muito larga, tinha que ter o dente bem certinho, bem branquinho, pra essas coisas que eu comecei a ver assim, tipo, nossa, não precisa tá nesse padrão pra ser feliz, eu posso ser feliz do jeito que eu sou.

Laura Mattos | 00:08:08

É um poder que as mídias sociais têm, né? A gente olha aquelas fotos lindas, maravilhosas e pensa, minha vida é péssima, né? Esse negócio de dar uma viajada nas mídias sociais, de achar que tudo é puro glamour, só a vida da gente tem problemas, fez a Giovana dar uma analisada melhor em quem ela tá seguindo. Olha só o que ela contou.

Aluno(a) | 00:08:31

Não estava seguindo ninguém parecido comigo, tipo sei lá estava seguindo umas oitocentas pessoas, duzentas era parecida comigo .Eu falei mano está muito errado isso aqui, está muito errado. Nossa eram assim pessoas sei lá que não eram de favela, estava bem na cara, pessoas assim milionárias, milionárias pessoas sei lá magras...

Januária Alves | 00:08:52

Então é por isso que a gente tem que pensar sobre como é estar nas mídias sociais até porque elas fazem parte da nossas vidas. E as pesquisas mostram isso. A TIC Kids Online Brasil por exemplo que é referência na análise do uso da internet na infância e na adolescência mostrou isso. Oitenta e sete por cento dos jovens de treze e quatorze anos no Brasil usam mídias sociais. Dos quinze aos dezessete anos são noventa e um por cento. É muita gente. Mas sabe que os estudantes também estão preocupados com isso. Com esse uso excessivo. Vamos ouvir um trechinho da conversa que eu tive com os alunos da Escola da Vila. Primeiro é o Francisco que fala, depois o Tomás.

Aluno(a) | Francisco 00:09:39

Rede social assim, pra gente virou um vício, é um negócio que a gente fica ali com um vício e é meio que a nossa opção pra se distrair. É o que a gente tem durante o dia pra entrar ali, pô. Como virou um vício acaba sendo um negócio meio descontrolado.

Januária Alves | 00:09:53

Quanto tempo você fica você acha?

Aluno(a) | 00:09:55

Depende muito. Depende do dia, cinco horas...

Aluno(a) | 00:10:00

você vai ficando meio que preso ali mesmo a esse algoritmo que te prende, você vai gostando do que você está fazendo e algo que começa a se tornar compulsiva, uma coisa meio viciosa porque então você está lá, você está confortável no seu sofá, vendo ali uma coisa que você gosta. Parece que já tá faz parte do meu dia, pegaram o celular e vê um TikTok ou ver um INSTAGRAM quando eu tenho uma hora vaga, agora eu acho que faz uma semana eu tô me policiando um pouco mais com isso...

Laura Mattos | 00:10:26

Por quê?

Aluno(a) | 00:10:27

Primeiro que a semana que vem a gente vai ter prova trimestral também então é um momento mais delicado na escolaridade né? Tem que estudar mais e isso claramente atrapalha a gente né? Mas também por conta eh de mim mesmo eu acho que não é algo que vai te trazer muito uma evolução pra si mesmo, você pode ganhar conhecimento de certa forma, você pode ganhar eh informação e tem algumas coisas que são sim, é proveitosas daquilo, é entretenimento, puro entretenimento também de você poder se entreter com algo, é algo legal, né? Mas você tem outras formas de ganho, você tem como aproveitar mais de outras coisas sem ser daquilo, só daquilo, porque isso vira uma coisa exclusiva e não se torna mais tão legal, sabe?

Januária Alves | 00:11:12

Então, a educação midiática tem a ver com isso que o Chico e o Tomás falaram. Com essa capacidade de avaliar, o que vale e o que não vale a pena acessar no universo online. Quanto do meu tempo eu quero passar lá? Porque quando a gente vê o dia acabou, passa voando e a gente não fez tudo o que gostaria porque ficou muito tempo nas mídias. Justamente por isso que a Clara que também é da Escola da Vila contou que ela tenta dividir o seu tempo.

Aluno(a) | 00:11:43

Eu gosto de pensar que eu sou disciplinada. Então grande parte do meu dia é dedicado ao estudo, mas eu sempre me surpreendo com o tempo que eu passo no meu, no meu celular. E é sempre três, quatro horas, as raramente são duas horas. Eh eu já fico orgulhosa quando são duas horas e eu me percebo em intervalos curtos assim eh entre aulas eu pego o celular e quando eu percebo eu estou no TikTok ou eu acabei uma lição eh eu abro o celular e eu tô no INSTAGRAM. Às vezes até comendo. Então situações como essas que vão acumulando e aí formam né? Esse tempo gigante que muitas vezes eu vou admitir que eu eu sinto que é perdido que eu poderia ter usado pra fazer outras coisas.

Januária Alves | 00:12:28

A verdade é que é difícil estabelecer essa diferença entre vida online e offline. Está tudo junto e misturado, né? Aliás, vamos aproveitar pra colocar na roda o Rapha Vicente? O Rafa ficou famoso nas mídias sociais justamente na pandemia. Começou a produzir vídeos com a família toda que estava lá trancada com ele. E fazia os roteiros de vídeos engraçados pro TikTok e o Instagram.E assim ele explodiu nas redes e hoje tem milhares de seguidores.

Laura Mattos | 00:12:56

Gente, tem um vídeo que ele inventou que o vira-lata dele é homofóbico, é hilário, cês tem que assistir.

Rapha Vicente | 00:13:03

e hoje eu vou mostrar pra vocês como é viver com cachorro homofóbico.

Laura Mattos | 00:13:09

O Rafa faz umas danças com uma roupa rosa e aí ele filma o cachorro dele com uma cara do tipo, opa, que que é isso? Não estou gostando não. É muito divertido.

Januária Alves | 00:13:19

E com esse conteúdo ele consegue ser crítico e engraçado ao mesmo tempo que é um jeito ótimo de chamar a atenção das pessoas para problemas sérios: como a homofobia e o racismo.

Rapha Vicente | 00:13:30

Após as redes sociais eu comecei a ocupar espaços que antigamente eu não ocupava. Sabe? Eu comecei a frequentar eventos que antigamente não imaginava ir, sabe? Que a gente que é preto, ainda mais eu que eu falo que eu sou um combo de todas as minorias, né? Que eu sou preto, eu sou favelado, eu sou pobre, eu sou gay, é um combo real, né? Então a gente cresce tendo as nossas oportunidades muito tiradas, sabe? O que chega aqui pra gente chega uma coisa muito escassa, a gente não tem as mesmas oportunidades que uma pessoa que mora lá no asfalto tem, sabe? Só que hoje em dia eu vejo que eu tô ocupando esse esses espaços e tô fazendo com que as pessoas aqui da marés ocupem esses espaços assim também, sabe? Porque eu sempre falo que é onde eu for, quero que a maré vá junto comigo, porque se eu comecei aqui dentro eu vou ir até o fim com eles e eu fico muito feliz de hoje em dia, a internet tá me proporcionando eu ocupar espaços e poder proporcionar pra outras pessoas ocuparem também.

Laura Mattos | 00:14:28

É, isso tem muito a ver com o que uma outra garota do ateliescola Acaia falou, a Thais. A Thaís mora na favela como o Rapha, mas em São Paulo. E ela também mostra o dia a dia dela nas mídias sociais de um jeito super bem-humorado.

Thais | 00:14:42

E se você é novo por aqui já não se esqueça de vim aqui embaixo se inscrever no canal.

Laura Mattos | 00:14:46

Ela é uma figura também. Conta aí Taís.

Aluno(a) | Thais 00:14:49

Teve um vídeo que tipo eu gravei a minha mãe ela trabalhava numa casa de família. E daí eu falava, eu gravava ela e falava: olha gente, hoje vai ser um vlog com a minha mãe limpando a casa! e daí a minha mãe falava "Thaís, para de gravar! eu ficava, ah, minha mãe limpando a casa e eu deitada na cama. Aí eu: mãe, aqui tem uma banheira que eu ficava mostrando, né? Falando com a minha mãe e falando com o povo.

Januária Alves | 00:15:11

Numa dessas ela fica famosa igual ao Rapha, né?

Laura Mattos | 00:15:15

Olha, ela quer isso mesmo e ela tem potencial, tá fazendo teatro, tá se dedicando, porque ser influencer ao contrário do que muita gente pensa, exige pesquisa, estudo e responsabilidade. Hoje é considerada uma profissão. Ela conta aqui nesse trechinho sobre esse sonho de ser famosa.

Aluno(a) | 00:15:36

Eu desde pequena tenho esse negócio de tipo, caramba, vou ser atriz, vou ser atriz, eu via as pessoas na televisão e daí eu comecei primeiro com o YouTube, né? Comecei, tipo, quando eu tinha uns doze anos, era muito pequena. Porque eu pensava ai as pessoa tipo vai vir um produtor, vai ver meu vídeo no YouTube e vai me chamar pra novela do SBT, da Globo e daí eu sonhava e tals. Aí foi aí que eu até escolhi o nome Thais de Boas porque brinca com o meu nome, né? Tás de boa? Thaís de Boas, então fui brincando com isso, aí quando veio a pandemia que foi onde veio aquela reflexão mesmo que é o curtir e daí né? Por que eu tô curtindo isso?

Januária Alves | 00:16:10

Thaís de boas, é ótimo, né? Um excelente nome, hein?

Laura Mattos | 00:16:14

também uma sacada pra gente pensar na mídias sociais, né? Porque tem muito isso de parecer que tá tudo bem, mas será que tá mesmo?

Januária Alves | 00:16:21

E sabe que a preocupação com os efeitos negativos das mídias sociais sobre a autoestima dos jovens já gerou até outras mídias que querem fazer exatamente o contrário das que estão aí? elas buscam estimular a autenticidade e a espontaneidade nos usuários. Eu vi recentemente uma nova mídia social que se chama be real em tradução livre seria seja real, seja autêntico. E lá você tem de postar conteúdo sem filtro e se mostrar como é pelo menos teoricamente porque a gente sabe como é difícil que as mídias sociais sejam assim tão verdadeiras. O Rapha tem essa preocupação também.

Rapha Vicente | 00:17:01

Eu sempre tento dar as minhas experiências pro pessoal porque eles sempre acham que a gente está bem sempre. Porque acaba que a gente sempre aparece ali rindo, alegre, então eles acabam tendo essa imagem assim, nossa, né? Mas eu não, hoje em dia eu faço ao contrário, eu apareço feliz e apareço triste porque eu acho que a gente precisa mostrar esse lado humano nosso e com as redes sociais é a mesma coisa. Quando eu tô cansado de algum assunto, quando eu tô enjoado de estar usando muita rede social, eu apareço ali e falo: "gente olha, não está dando pra ficar aqui ,preciso tirar um tempo aqui pra mim porque as coisas estão muito pesadas", então eu acho que eles meio que veem que se eu posso sair, eu que sou influencer digital , eu posso sair da internet quando eu não estou me sentindo bem porque eles não podem também.

Laura Mattos | 00:17:47

No Ateliescola Acaia a Samanta, que todo mundo chama de Sassá, falou algo bem importante sobre essa questão de ser mais transparente nas mídias sociais e de aproveitá-las não só pra mostrar coisas legais, mas também pra falar sobre o que tá incomodando, pra protestar mesmo.

Aluno(a) | 00:18:04

Eu acho que essa parte de indignação a rede social serve bastante também, sabe? Você questionar as decisões que são tomadas, sabe? Nós como pessoas da periferia, sabe? Está sendo a favor da gente? Tipo a gente faz questionar a gente mesmo e as pessoas que está seguindo a gente, sabe? Às vezes é necessário, sabe? Não precisa ser mil flores. Porque nem tudo é mil flores, né? Na própria vida real não é.

Januária Alves | 00:18:25

Lá na Escola da vila os meninos falaram bastante disso e também refletiram sobre a participação dos jovens em movimentos políticos on-line e nas manifestações de rua. O Chico acha que são coisas diferentes.

Aluno(a) | 00:18:38

legal, começar na internet o movimento, só que ele tem que ser da internet pra rua e não da internet pra internet. tem robô na internet, é muito difícil de mencionar o quanto aquilo ali é apoio. Apoio é a imagem que você vê da Paulista, a imagem que você vê no Brasil todo de gente na rua.

Laura Mattos | 00:18:55

Sabe que eu vim do Chico e também essa Sassa falarem, eu me lembrei de um dado que me chamou muita atenção naquela pesquisa que a gente mencionou já, TIC Kids Online Brasil .Quantos por cento das crianças e dos jovens de nove a dezessete anos usam a internet pra conversar sobre política ou problemas da sua cidade e do seu país? Chuta Janu

Januária Alves | 00:19:16

é mais ou é menos do que os que usam pra jogar videogame?

Laura Mattos | 00:19:21

Ó, em dois mil e vinte e um, sessenta e seis por cento jogaram games e quinze por cento conversaram sobre política. Tem outro número, vinte e dois por cento procuraram informações sobre o que acontece no lugar onde moram.

Januária Alves | 00:19:35

Se a gente pensar que o uso da internet nessa idade no Brasil passou de setenta e nove por cento em dois mil e quinze pra noventa e três por cento em dois mil e vinte e um é gente pra mais de metro, hein? Como se diz lá na minha terra. Tem muito jovem interessado em usar a internet e as mídias sociais pra participar de debates sobre questões importantes pra sua vida, pra vida da escola, do bairro, da cidade e até do nosso país. E é sobre isso que a professora Inês Vitorino costuma fazer uma provocação bem instigante. Ela é da Universidade Federal do Ceará e participa de um grupo que pesquisa a relação entre juventude e a mídia. Ela diz o seguinte pros jovens.

Especialista | 00:20:16

Você está sendo convidado todos os dias a participar. Massa, participe, mas participe pensando onde você quer chegar .Participe pensando em quais são as questões que você quer trazer pra sociedade. O que que você quer discutir? O que que está lhe incomodando? Quais são as questões eh seja do seu convívio familiar, social seja do ponto de vista da sua cidade, do seu bairro? Você conhece seu bairro? Você conhece a os heróis do seu bairro? As heroínas do seu bairro? Você vai dizer, no meu bairro não tem herói ainda não, não tem herói não. Não? Ou será que uma mãe que vive com um salário mínimo ou às vezes com menos do que isso? E consegue levar essa família adiante, esses filhos adiante. Ela não é uma heroína não?

Januária Alves | 00:21:01

Pois foi justamente isso que a Júlia fez. Ela participou de um projeto chamado Imprensa Jovem, na Escola Municipal Henrique Souza Filho ,de São Paulo, e decidiu criar um perfil no Instagram. O Lia Comunica.E ela conta qual é o objetivo dela com isso.

Jovem - Lia Comunica | 00:21:18

De potencializar a voz das pessoas e transformar a realidade territorial e mundo afora porque a internet ela nos possibilita isso né? Eu acho que a mídia digital ela pode ser usada a nosso favor e foi daí que o Lia comunica que é o meu projeto independente e ele acabou surgindo. Eu faço ele no INSTAGRAM, através dele eu compartilho as minhas experiências relacionada ao jornalismo e a edu comunicação e também eu uso aquele espaço pra dar abertura aos moradores do meu bairro pra contarem as histórias dele. A gente tá a frente de um tempo novo, um tempo onde a gente pode transformar não somente contextos mas pessoas mesmo. A gente pode fazer com que acreditem que elas tenham um espaço de fala. A gente não está dando voz a ninguém. A gente está potencializando elas através da ferramenta que nós temos.

Laura Mattos | 00:22:08

Nossa senhora, né? A gente tem que assinar embaixo mesmo e deixar essa turma falar.

Januária Alves | 00:22:14

E você que está nos ouvindo, será que se inspirou pra fazer um uso diferente das suas redes sociais?

Laura Mattos | 00:22:20

E no próximo episódio tem mais, gente. A gente vai falar sobre bolhas, algoritmos, cyberbullying e muito mais. Vamos até falar sobre perfil de fofoca nas escolas. Já no é uma loucura. Vamos entender tudo isso nas próximas conversas.

Januária Alves | 00:22:39

Até lá, beijo. Tchau pessoal, a gente se vê.

Vinheta encerramento 00:22:48

A produção e o roteiro deste podcast é de Laura Matos, Januária Cristina Alves e Eliane Leme. Com o apoio de Natália Damasceno. Apresentação de Laura Matos e Januária Cristina Alves. Edição e mixagem Eliane Leme. Pesquisa: Isabella Inês e Agenor Neto, Arte Gráfica de Mateus Vieira, coordenação Januária Cristina Alves e Vitor Vicente. Confira os canais do Vero o site é Vero ponto ORG ponto BR. Nas mídias sociais você nos encontra em @ Vero Instituto.